24/07/2010

pra começar a conversa

Matias nasceu no dia dois de maio.

Era um domingo, e foi um parto domiciliar maravilhoso. Apesar de já estar com contrações há dois dias, quando o negócio apertou acabou sendo tudo super rápido, e em uma tarde eu já estava com ele nos braços. Ele nasceu na banheira, que quase não deu tempo de encher, foi só pra ele nascer mesmo, quando eu entrei já estava no expulsivo.

No dia seguinte, tivemos que levá-lo ao hospital. Descobrimos que ele tem uma malformação cardíaca que, por algum motivo, não tinha aparecido nos exames de pré-natal. Pra encurtar bastante a história, conseguimos voltar pra casa depois de um mês e meio, um cateterismo, uma cirurgia e quatro falhas de extubação.

Mas na verdade foi muito mais do que isso. Teve muita dor, muita raiva, muita revolta. Muito preconceito com o parto domiciliar. Muito medo. Muitas lágrimas. Mas teve também muito amor. Muita fé, muita ajuda, muitos amigos. Muito aprendizado. Foi, e ainda está sendo, tudo de muito na vida dele e na nossa também.

Quando ele saiu do hospital, tínhamos a previsão de fazer mais duas cirurgias ainda na primeira infância. Hoje, ele está bem. O coração está se desenvolvendo bem, mas ainda não sabemos a programação das cirurgias, vai tudo depender de como ele fica. A parte boa é que as perspectivas hoje já são bem melhores do que na época da alta hospitalar, e que toda essa luta dele pela vida tem sido recompensada com uma evolução muito promissora.

Três motivos muito fortes me levaram a querer contar essa história. O primeiro é um pouco egoísta, mas eu preciso colocar isso tudo pra fora como um jeito de tentar entender um pouco tudo o que aconteceu, o que está acontecendo. Mesmo que eu não consiga entender os porquês, se me ajudar a organizar o juízo, já tá valendo muito.

O segundo motivo é pra eventualmente ajudar, com essa minha experiência, mães em situações difíceis. Eu aprendi com as mães da UTI que compartilhar essa dor com quem sabe o que você tá sentindo ajuda muito. Fez com que eu me sentisse menos sozinha. E, consequentemente, mais forte pra enfrentar essa luta.

Por fim, esse blog é, acima de tudo, para agradecer as pessoas que estão do meu lado nessa hora. Uma amiga disse que Matias veio pra renovar na fé e na confiança no amor. E eu acho que é isso mesmo. Isso não tá acontecendo só comigo, essa história é muito maior do que eu, do que o Fernando. Tem tanta gente envolvida torcendo, rezando, cada um do seu jeito, reforçando essa coisa tão importante na vida da gente que é o vínculo com o outro. E eu tenho certeza que é isso, esse amor, acho que não tem outra palavra, que salva vidas. Que tá salvando a vida dele. Esse blog é dedicado a vocês. Muito obrigada.

[É dedicado também ao meu pequenininho e a Júlia, que me deram a honra de ser escolhida pra ser mãe deles, pra viver essa vida junto deles e pra gente se ajudar e ser feliz. Juntos.]