19/09/2010

da fé

Nunca fui uma pessoa de muita fé. Acho que isso é por conta do colégio de freiras em que estudei muito mais tempo do que deveria ter estudado. Eram tantos dogmas inúteis e regras sem sentido, e Deus só ia gostar de mim se eu me comportasse e fosse do jeito que elas queriam, como assim né.

Além disso era difícil ser uma pessoa de classe média baixa num colégio de classe média alta. Fui muito escanteada e mal tratada. Tá certo que isso não tem rigorosamente nada a ver com a religião católica em si, mas na minha cabeça de criança/pré-adolescente ficou tudo misturado.

Pra você ver como o negócio era sério, um amigo que estudou na mesma escola que eu diz até hoje que quando encontra uma freira na calçada atravessa a rua. Então tem alguma coisa aí, né, não sou só eu.

Ao mesmo tempo eu sempre achei que a fé é uma coisa necessária a vida. Nas minhas crises depressivas, que até hoje me assombram, tive certeza, em todas elas, que se eu acreditasse em alguma coisa seria mais fácil ir em frente. E aí não tô falando só de religião não, acho que cabe a cada um achar os seus próprios caminhos pra ficar bem. Mas justamente nessa época era "bonito" dizer que não acreditava em nada, toda uma arrogância intelectualóide que a gente tem em algumas fases da vida. Só depois de muito tempo comecei de novo a procurar alguma filosofia (vamos chamar assim) que fizesse sentido.

E coincidentemente (ou não), ela veio justo durante a gravidez do Matias. Que não foi uma gravidez emocionalmente fácil, então acho que não foi coincidência mesmo, foi um certo desespero, um pedido de ajuda (isso porque nem sabia que estava tendo uma gravidez de risco, né). Não quero aqui nomear nada, porque não é sobre a coisa em si que quero falar, mas era preciso que fosse uma linha de pensamento mais receptiva aos erros e bobagens que a gente faz pela vida. Porque eu realmente não consigo entender como as pessoas querem que a gente acredite num Deus que deixa de gostar de uma criança de dez anos de idade só porque ela, sei lá, num foi na missa no domingo. Não quero dizer com isso que todo mundo pode sair fazendo merda pelo meio do mundo, mas sim que a gente faz merda eventualmente, por milhares de motivos, alguns deles a gente só vai entender depois, mas na minha cabeça, sinceramente, não é possível que essa divindade não entenda isso também.

Acho invejável quem consegue passar por esse tipo de coisa colocando tudo na mão de Deus, sabe? Vai ver que eu ainda tenho muito resquício daquela arrogância intelectualóide pra viver assim. Mas eu posso dizer sim, que ter fé me ajudou, e tem me ajudado, a passar por esse momento obscuro da minha vida. Talvez eu nem tenha escolha, mesmo, mas eu tenho que ter fé na vida do meu filho. E eu tenho.

16/09/2010

montanha russa

Achei que ia ser mais fácil manter esse blog.

Quando a gente estava no hospital todo mundo sempre falava que eu tinha que ficar bem pra quando ele precisasse de mim. Pra quando ele viesse pro peito, pra quando ele chegasse em casa. E eu sempre respondia que é claaaaro que eu vou estar bem quando ele estiver bem, como não.

Mas não. Num tô dizendo com isso que eu prefiro a época do hospital nem nada disso, longe de mim. É genial vê-lo bem, crescendo, se desenvolvendo. Mas ao mesmo tempo é assustador saber que essa situação atual é provisória (pro bem ou pro mal, nem isso sabemos) e que de uma hora pra outra todo aquele pesadelo pode muito bem começar de novo.

Viver na sombra desse medo é muito assustador. Eu tenho tentado ficar calma e bem, porque sei que como eu me sinto acaba, de alguma maneira, influenciando o bem estar dele. Mas não saber o dia de amanhã me dá um desespero muito angustiante. E sim, eu sei que no fundo ninguém sabe o dia de amanhã. Nem eu, nem você, nem ninguém. Sei que mãe em geral é mesmo assim meio neurótica. Sei de tudo isso. Mas veja bem, meu filho tem um problema no coração. Até falar isso é assustador.

Ando pesquisando muito sobre grupos de apoio na internet. Tem muita gente falando sobre isso, até. Pesquiso porque quero saber qual a melhor forma de levar essa experiência pra ajudar alguém. Mas ao mesmo tempo, agora, ler histórias, parecidas ou não, ainda mexem tanto comigo. Ainda me deixam assustada de um jeito que não é saudável. Então volto a dizer, não sei se é hora ainda de ajudar ninguém. Não que eu não queira, mas eu não consigo, ainda.

Ainda.