05/10/2010

alô você, profissional de saúde

Semana passada levei o Matias pra colher sangue, lá no centro diagnóstico daquele hospital badalado de rico. Já tínhamos feito outros exames lá, de RaioX e Ecocardiograma, e sempre fomos muito bem tratados, sempre estava vazio e certa feita a médica do Eco até adiantou o nosso horário pois estávamos adiantados.

Sei que entramos, eu e Matias, pra coleta. Veio uma funcionária (e nesse ponto não sei quem é enfermeira, auxiliar, coletora). Ela pediu pra deixar ele deitado e me explicou como ia ser feito o procedimento. Nessa hora ela viu a cicatriz do Matias, porque eu queria saber se ia ser preciso (ou se seria mais fácil pra ela) se ele estivesse sem a blusa. Aí ela perguntou se ele tinha feito cirurgia, e eu respondi afirmativamente. Até aí tudo ok.

Eis que chega uma segunda pessoa pra ajudar. Aí elas começam a segurar ele, coisa e tal, e prontamente aquela funcionária número um vira pra outra e fala "ele já fez cirurgia cardíaca, já sabe o que é isso'.

Respira.

Chega terceira pessoa. Segura as pernas dele, enquanto a segunda segura o braço em questão e a primeira colhe efetivamente o sangue. Acaba processo. Ok, Obrigada, vou saindo com ele no braço, e funcionária número dois fofoca pra número três "ele já fez cirurgia cardíaca, tadinho".

Aí eu não aguentei. Essa informação não tinha nenhuma relevância pro atendimento, muito menos na hora em que já tinha tudo acabado. O que essas pessoas têm na cabeça? Não sabem que esse tipo de comentário é FODA pra uma mãe que convive diariamente com a dor de ter um filho cardiopata? E essa fortuna que as pessoas pagam pra usar esse lugar, será que não paga um treinamento pros funcionários terem um mínimo de educação e bom senso ao antenderem pessoas que obviamente estão em situação delicada?

Escrevi pra lá. Desci a lenha. Não é possível uma coisa dessas. Aí dois dias depois a supervisora me ligou pra pedir desculpas. Disse que não foi a intenção. Expliquei tudo dois mais dois e pedi que por favor fosse repensado aí esse atendimento.

O mais triste é que sei que só me responderam porque foi nesse lugar caro. Imagino num hospital público o que é que você não tem que escutar e não tem nem com quem reclamar.

Minha sugestão? Reclame assim mesmo. Talvez seja preciso explicar dois mais dois também, desenhar uma situação ideal de respeito ao paciente e familiares. Mas não se pode guardar esse tipo de coisa, já tem sofrimento demais do lado de dentro da gente.

Isso porque eu nem comecei ainda a contar os horrores da época da internação.

Ufa.

4 comentários:

  1. querida, ainda não tive tempo de ler todo o blog. torço muito pelo matias e por você também.
    quando pedro tinha 4 meses ele tomou a vacina contra o rota-vírus e teve uma reação incomum: invaginação intestinal. resumindo muito resumido, ele teve que fazer uma cirurgia no intestino, de emergência. não vou entrar nos meandros da anústia antes dele operar, da médica cirurgiã que não chegava nunca, etc.
    todo mundo também me falava que eu precisava ser forte e tal. e eu só queria chorar. sabe, me dava vontade de parar o mundo só pra poder ficar num canto e chorar até desmaiar de cansaço. foi praticamente uma semana de internação e eu fiquei com pedro esse tempo todo, sem sair do hospital, fazia as refeições por lá mesmo. mas até por insistência da minha mãe do que por fome. naqueles dias não sentia fome nenhuma.
    pedro se recuperou super bem (e é incrível como as crianças bem pequenas tem uma recuperação rápida) e, fora uma pequena cicatriz, não tem sequelas nenhuma.
    ele.
    porque eu nunca me recuperei. acho que nunca vou me recuperar. depois que ele saiu do hospital dorme comigo na cama. é a única forma de eu tentar dormir um pouco. tem dias que o coloco no berço. mas antes da meia noite o coloco na cama. sei que os psicólogos me açoitariam em praça pública mas eles nunca passaram por isso...
    lendo um dos seus posts lembro da primeira vez que fui ao shopping depois que o pedro saiu do hospital. (ah, sim. parênteses. quando saimos do hospital ficamos 1 mês na casa da minha mãe. pura insegurança minha. e continuo insegura até hoje. mas pelo menos já voltei pra minha casa :) pedro precisava de alguma coisa, minha mãe dizia que eu não saia nunca pra ir a lugar nenhum, e me mandou lá. nem sei te contar o quanto eu chorei vendo outras crianças da idade dele passeando com os apis. era um dia de semana, o shopping nem estava cheio. mas sempre tem crianças. e eu chorava. me doía tanto não poder estar ali com o meu filho. lembrar que ele ainda estava se recuperando de uma cirurgia. eu não tive raiva da situação nem fiquei pensando "por que logo o meu filho?". só queria que ele ficasse bem e logo.
    enfim. isso tudo pra te dizer que o matias já está bem. e, sim, claro que é difícil. mas por melhor que ele esteja, é provável que você vá sentir um puco de aperto no peito aqui e lá. coisas de mãe. as crianças se recuperam. nós, mães, nem sempre.
    se quiser conversar mais, é só escrever, tá?

    bjus,

    Lu

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  2. Sílvia,
    Fiquei sabendo dessa história de força, amor e dedicação, a sua história com Matias, através de João Paulo (Popa). Que a força venha através do brilho nos olhos de seu filho e do amor de sua família. Que Deus abençoe vocês e que ilumine sua família. Beijos. Gizella

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  3. Eu se fosse tu tinha dito no post o nome do hospital Albert Einstein. Assim, só pra constar. Mas como eu não sou tu né, eu digo aqui. Hospital, assim nos bastidores, ser de rico ou de pobre é o que faz menos diferença. O despreparo com essas sutilezas é o mesmo.

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  4. Sílvia,
    Assim como Gizella disse acima, também fiquei sabendo agora através de um e-mail de JP.
    Li todo o seu blog e estou muito emocionada com tudo o que li.

    Dizem que nada vem por acaso. É difícil ouvir e acreditar nisso quando estamos sofrendo. Mas através de suas reflexoes quantas coisas vc mesmo já admitiu ter aprendido com essa experiência. Apesar de toda revolta e angústia que vc está sentindo, quão maiores são os sentimentos de amor, fé, solidariedade...
    É interessante que a gente vai lendo e o que passa pela cabeça da gente em te dizer está logo ali, na próxima linha. Você tem muita força e muita fé. Se dê o direito de poder ficar triste, revoltada, preocupada, ansiosa...Você é um ser humano! Quem não fica, ou ficaria assim... Deus ou a força superior na qual vc acredita, está olhando por vocês sim! Quando a gente tem fé, a gente sabe/ sente que de um jeito ou de outro as coisas darão certo, é nessa hora que estamos colocando as coisas nas mãos de Deus. Acho que vc já consegue isso!

    Acabei de ter minha segunda filha, Ana Carolina. Ela está com 22 dias. No churrasco, vc estava grávida. Eu estava no comecinho da minha gravidez, e ainda não sabia. Carol nasceu com 41 semanas, de parto cesáreo. Depois de Ana Júlia, que nasceu de cesárea porque a bolsa estorou com 39 semanas e eu não entrei em trabalho de parto nem por indução, eu também queria muito tentar o parto natural (no hospital). Esperei 41 semanas e nada! Nada do colo apagar ou contraçao ou dilatacao. Carol estava com preguiça de sair!!! Preguiça que nada! Era Deus protegendo a mim e a minha família.
    Quando a médica abriu a barriga, lá estava meu útero da finura de um guardanapo (Paulo viu), no lugar da minha primeira cesárea. Por algum motivo que a medicina desconhece, meu útero nao tinha se reconstituído e se eu tivesse entrado em trabalho de parto o útero poderia ter rompido, o que muito provavelmente levaria a mim a minha filha a morte. Qdo eu retomei o juízo e entendi o perigo que correra, chorei muito e agradeci (e agradeço) a Deus por ter nos protegido, por não ter permitido que Ana Júlia ficasse sem mãe.

    A gente é tão frágil. Cada dia estar vivo é um milagre. Quantos perigos corremos durante um simples dia. Não gosto de pensar assim. Me angustia. Mas ao mesmo tempo renova a minha fé. Me faz olhar pra frente e enfrentar meus medos com a certeza de que Deus está olhando por mim e pela minha família. E esse pensamento me conforta e me faz sentir protegida.

    Sempre que estou angustiada, me lembro do refrao dessa música, que de alguma forma me acalma e me dá força pra eu ter fé. Espero que te ajude também.
    Estou rezando por vocês. Agradeça a Deus por mais um dia e tenha fé que tudo vai dar certo.

    Um beijo no coraçao.
    Fabiana Monteiro (Nega)

    "Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus,
    pois ela, ela te sustentará
    Não temas segue adiante e não olhes para trás
    SEGURA NA MÃO DE DEUS E VAI".

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