14/05/2012

E o Matias fez dois anos

E quero mostrar pra vocês como ele está.

Depois do último cateterismo, esse de que falo logo abaixo, não tivemos mais intercorrências, só cardiologista de rotina e preocupações normais com escola, gripes etc. Não consigo expressar o quanto sou agradecida por isso, mas sempre que ele vai no hospital por qualquer tosse que seja, lembramos de tudo. Os médicos se assustam porque ele é cardiopata, se assustam com a oxigenação um pouco mais baixa do que o normal, se assustam com o raioX que mostra o quanto ele já foi mexido por dentro. Sempre ficamos lá por horas e horas. Sempre nos assustamos e odiamos o ambiente. Mas seguimos em frente.

Durante esse ano conheci e felizmente fiquei amiga de muitas mães que passaram ou passam por dificuldades quaisquer que sejam em relação à saúde dos filhos. Resolvi que me colocaria à disposição delas e iria atrás mesmo, me apresentando e deixando a pessoa em questão bem à vontade pra me responder ou não. Porque eu também entendo que tem hora nessas situações em que você não quer falar com ninguém, muito menos uma louca que você nem conhece. Mas aí eu conto toda a minha história com o Matias e a dureza que foi passar por tratamentos e incertezas e lutos que ninguém reconhece como tais, e normalmente a conexão é feita e se eu consigo minimamente ajudar essa mãe, então eu fico genuinamente feliz.

Essa coisa do luto é engraçada. Conversando com uma dessas mães, falei das minhas ideias de que ter um filho que não é perfeito (e obviamente falo de um tipo de imperfeição que vai além de ter um filho com olho azul ou castanho) é uma espécie muito forte e muito perigosa de luto. Não, seu filho não morreu, mas você perdeu o bebê perfeito com o qual você sonhou durante toda a gravidez, às vezes toda uma vida. Sei que é impactante ter um filho pela primeira vez e encarar aquele animalzinho chorão e totalmente dependente que mastiga o seu peito e regurgita leite no seu cabelo. Mas encarar uma realidade de UTI e cirurgia, e até morte acaba com qualquer mãe, mesmo que ela não seja das mais sonhadoras. E aí você sofre junto com o seu filho real, mas também sofre a perda do seu bebê sonhado e imaginado, mas ninguém entende isso, e você anda de mãos dadas com a culpa por muito, muito tempo. Essa amiga também falou que as pessoas costumam não entender como se deve o luto da perda de um bebê. E o quanto é surreal ouvir coisas como "não fique triste, logo logo você tem outro", como se fosse tudo bem falar pra uma viúva não ficar triste porque em pouco tempo ela vai arrumar outro marido.

Esses assuntos tabus precisam ser discutidos e vivenciados, pra que possa ser menos solitário pra cada uma das mães que está agora mesmo sem conseguir dormir de preocupação ou dor por um filho.

Pretendo contar em breve sobre a dificuldade que foi pra mim mesma deixar o Matias na escola. E também como é desafiador educar e não superproteger uma criança com o histórico dele. Por agora deixo vocês com uma fotinho dele e da Rafaela, a primeira amiga do Matias, uma coisa linda que nasceu com menos de meio quilo e que veio pra festinha dele ontem e me deixou tão feliz com suas unhas pintadas que eu nem sei dizer. Um beijão.

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