10/08/2010

dos porquês

É inévitável, nessas situações, a pessoa ficar se perguntando o clássico "porquê", né. Por que diabos nessa vida isso tá acontecendo comigo. O que foi que eu fiz pra merecer isso? Não que eu acredite que a vida funciona nesse nível de determinismo, que as coisas ruins acontecem como formas de castigo ou nada disso. Mas no desespero, você pensa de tudo.

Dia desses eu tava muito revoltada. Revoltada com a situação mesmo, de ter um filho cardiopata, de ele ter que sofrer e passar por tudo isso que ele passou, caceta, ele é só um bebêzinho. Revolta com a minha situação, de ficar todo dia o dia todo olhando o menino respirar e com muito, muito, mas muito mesmo medo, pânico de ser hoje o dia em que vai dar uma merda. O dia que a gente vai voltar pro hospital. De ter que conviver com esse medo pro resto da minha vida e de nunca mais conseguir ser feliz, nem por um dia.

Aí uma amiga falou que eu não devia pensar assim, que eu devia era agradecer por ele estar nos meus braços. Eu concordo, até. E agradeço. Agradeço todo dia, a tudo e a todos, a deus, ao mundo, à vida. Ao Matias. Mas quando você lida com esse tipo de coisa todo dia, não dá pra se sentir só de uma maneira. Não dá pra ficar só agradecida e feliz. Você sente de tudo. Você fica com raiva, com medo, feliz, triste, muito triste, ansiosa, acuada, angustiada, calma (quando ele precisa da minha calma), e revoltada também.

E às vezes eu penso que isso tá acontecendo comigo porque eu aguento. Por mais que eu ache que eu não consigo, ali nas horas de desespero, tudo o que eu fiz esses últimos três meses me mostram que, porra, eu faço tudo por esse menino. Ele tá em aleitamento materno exclusivo mesmo com cardiopatia e um mês e meio no hospital, e olha que pra conseguir manter a produção de leite eu passava quarenta minutos a cada três horas, todos os dias, na salinha de ordenha do hospital com uma máquina sugando o meu leite e chorando muito, muito mesmo, porque não era ele que tava ali. Eu passei todo aquele tempo passando o dia inteiro no hospital, que ao contrário do que seria óbvio NÃO TEM um lugar para a mãe ficar, o máximo que você consegue é uma cadeirinha emprestada pra sentar ali ao lado do leito, mas em boa parte do tempo você tem que ficar em pé. Eu cantei pra ele quando ele tava sedado e entubado. Eu faço massagem todo dia pra fortalecer, acalmar e fazer com que ele se sinta ainda mais amado e tocado. E eu sei, eu vi, que não é todo mundo que aguenta isso. Não é pra qualquer um, mesmo sendo mãe.

Então é isso. Eu vou fazer tudo o que o meu filho precisar. Sempre e em qualquer situação. Porque é isso que é amor, é fazer o que for preciso pro outro, se doar, se dar inteirinha e sem restrições, seja lá o que aconteça.

[quero muito agradecer todo o carinho de todas essas novas pessoas que estão acompanhando a nossa luta. isso é muito importante e faz muita diferença, toda essa força que vocês nos mandam, tenham a certeza. muito obrigada de todos nós]

7 comentários:

  1. com 19 anos, fiquei diabética. era magra, fazia exercício, glicose normal a vida toda. quer dizer, foi um susto, completamente inesperado e improvável. mas, a verdade é que as coisas não tem muito sentido mesmo. fiquei desesperada, desnorteada, não falava com ninguém. e o que é que eu podia dizer, né? que a minha vida tinha acabado? porque era isso que eu pensava, sabe? nem entender direito o que tava acontecendo, eu entendia. aí, um dia, meu pai sentou na minha cama, enquanto eu tava olhando pra parede e ouvi ele chorar e chorar muito. nunca tinha visto/ouvido ele chorar na vida. nessa hora, entendi que se ele pudesse fazer qualquer coisa pra que eu não passasse por aquilo, faria e entendi que se eu pudesse fazer qualquer coisa pra que ele não sofresse daquele jeito, também faria. foi aí que decidi encarar o tava acontecendo de uma outra forma. não foi fácil (ainda não é). eu só queria ter uma vida normal de menina de 19 anos saudável, não ficar tomando insulina e furando o dedo várias vezes por dia pra fazer exame. mas, puxa vida, você sente aquele bem querer tão grande e não quer que o outro sofra com o seu sofrimento. nem sei porque tô falando essas coisas... nem tem nada a ver com tudo que tu tá passando, mas queria dizer, que de certa forma, entendo um pouco como tu se sente e entendo um pouco como teu menino se sente cercado de tanto amor. é isso. um beijo grande. fé e força.

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  2. Estamos sempre tentando entender tudo, achar respostas, mas o mais importante (acho eu) você já descobriu - você aguenta porque faz tudo por amor.
    Também sei que o amor fará seu menino lindo crescer saudável e dia a pós dia a fé aumentar no coração de cada um de vocês.
    O complicado é ter plena noção de quanto a vida é frágil, de como de uma hora para outra tudo pode mudar, mas isto é assim para todo mundo, ninguém está livre disto.
    E ai eu acredito que temos que nos apegar com unhas e dentes nas coisas boas, na força do amor e seguir.
    Beijão,
    Greicy

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  3. Boa sorte pra vocês, Sil.
    Ia ao seu antigo blog regularmente porque passar lá pra ler suas histórias me alegrava e vou continuar te visitando aqui, pra também ficar feliz com as notícias de melhora do seu pequenino.
    Força e um grande beijo pra vocês

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  4. Roberta D'Albuquerque12 de agosto de 2010 às 12:15

    Vi seu blog no reina madre. A gente estudou juntas na faculdade. Eu também tenho duas crianças. Fico aqui mandando um monte de energia boa pra ti e pra teus meninos. Vai dar tudo certo. Tu vai ver! Muitos beijos

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  5. Silvia, desejo tudo de bom pra você e sua familia, que vocês tenham força para passar esse momento tão dificil, e que essa força seja recompensada com a saude de todos vocês, com uma recuperação completa do Mathias.
    Se você quiser trocar experiencia com outra mãe que vive, como você, uma situação impensavel, uma prova de amor e fé, leia o blog da Aline Bretas, http://vivoesinto.blogspot.com/. O Theo filho dela tem um problema grave, descobriu-se a apenas 1 semana, de hidrocefalia, sendo que ela tem ido e vindo de medicos desde que ele tinha 3 meses e ele agora tem 8. Acho que vocês podem sim, se ajudar mutuamente. Um abraço e boa sorte

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  6. olha, vc e esse meninos sao de uma força fora do comum, respeito paca o bebê Mathias, que cara forte esse! Se tivessem chapéus eu tiraria sem parar todos os meus chapéus para esse garoto! Valente!
    Eu sei o que é estar em alerta dia e noite,noite e dia, é duro, as coisas sao recentes agora, tudo vai dar muito certo! Td! Tenho certeza disso!!! ë tudo mto novo e mta informaçao...Vc é uma linda quer saber!! Tudinho vai dar certo! Já está dando! Parabéns por ser um ser tao especial. Sério. Bjs e muitas boas vibracoes para todos aí!

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  7. Ok, ministério da saúde, estou amamentando.

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