14/08/2010

sobre a amizade

Eu vou pegar ali o finzinho do outro post, sobre como é preciso que a gente se doe sem limitações, pra falar de uma coisa que me inquieta desde o começo dessa história.

Eu queria falar sobre como eu acho que eu você e todos nós podemos ajudar uma pessoa amiga que esteja em situação difícil. É óbvio que eu vou falar do que eu vivi, mas aí você faz as suas próprias adaptações.

Teve de tudo, sabe? Teve gente que eu nem conhecia que me deu a maior força. Teve amigo do amigo que subiu o morro da conceição pelo Matias. Teve um monte de gente que ligou uma vez e prometeu mil visitas e nunca apareceu. E teve também quem era muito próximo, até melhor amiga que sumiu de um jeito que é até assustador.

Eu sei que é difícil. Eu sei que você não quer nem saber que existe um sofrimento desse porte. Eu sei que você não sabe o que dizer (muita gente me disse isso "não te liguei porque não sabia o que dizer"). Eu sei que você vai sofrer muito também, mas acredite, a sua dor não vai ser maior do que a minha.

E olha, eu passei por isso também. Quando o Matias saiu do hospital, tinha outros bebês que estavam muito mal. Sim, porque isso foi uma coisa muito difícil, o meu filho tava melhorando, mamando e até saiu da UTI e outros bebês por quem eu tinha desenvolvido todo um amor, todo um carinho de assistir a luta emocionante deles pela vida, eles tavam piorando.

E sabe o que aconteceu, eu relutei, depois, quando estávamos em casa, a ligar pra essas mães e perguntar como elas e as crianças estavam. Eu tive medo. Medo de saber que o bebê tinha piorado. Eu tinha medo de sofer. Mas aí eu me dei conta, essa mãe tá sofrendo muito, e com certeza precisa de ajuda. E dito e feito. Engoli meus medos e meus traumas (afinal eu tinha acabado de passar por situações MUITO difíceis e o que eu menos queria era ouvir falar daquele hospital) e liguei. E sabe qual foi a primeira coisa que uma das mães me disse? "Brigada por não ter me esquecido". Sabe o que isso significa? Que a pior coisa nesses momentos é se sentir sozinha. Abandonada. Porque porra, ninguém sabe em que merda você tá, mas gente, no desespero, a única coisa que você pode fazer é estar lá. Segurar a mão. Não precisa dizer nada.

Mas se mesmo assim você quer dizer, eu vou te ajudar. Primeiro, não trate a pessoa como idiota. Não diga que está tudo bem se não estiver. Mas olha, depois de muito pensar, eu descobri que a única coisa que uma mãe pode fazer num caso desses é acreditar. Sabe essa coisa que todo mundo diz de que você tem que se preparar pro pior? Pois, isso não existe. Ninguém se prepara pro pior, você pode até pensar pra cacete no pior, mas ninguém, nunca, eu aposto, está preparada pra ver o seu filho passar por uma dessas. Então pode estimular a pessoa a acreditar. A ter fé. Porque isso é um fato, ninguém nunca sabe o que pode acontecer. Em determinado momento meu filho tinha a possibilidade de passar seis meses internado, e hoje ele tem três e tá aqui comigo, mamando no peito e usando fralda de pano como eu queria antes de saber da cardiopatia. E a fé de uma mãe pode salvar a vida do pequeno. Pode fazer essa mãe ficar mais com o filho dela, tocar mais nele, falar mais com ele e fazer com que ele se sinta amado e tenha força para querer ficar vivo.

Não é fácil, né. Eu sei que não é fácil, eu já estive dos dois lados. E eu sei que a gente só faz o que a gente pode. Então é isso que eu posso te dizer, baseada na minha própria experiência. É foda, mas é importante. Acredite, faz diferença. Então que tal engolir você também seus medos e ir dar um abraço na sua amiga? Ainda dá tempo.

Eu garanto que se a pessoa não quiser falar (com você), ela não vai atender ao telefone. Se você não consegue suportar a dor imensa dessa rejeição, mande um email. Uma mensagem, que seja.

Eu peço desculpas se esse post pareceu rancoroso. Eu juro que não tô com raiva de ninguém, eu sinceramente tenho muito mais com o que me preocupar. Mas eu peço pra todo mundo que só apareceu agora que ele tá fofo, bochechudo e sorridente no facebook, que não desapareça se por um acaso (e que fique bem claro que tudo o que eu peço dessa vida é que isso não aconteça nunca mais) eu voltar a estar numa situação daquelas em que eu não conseguia ter forças nem pra falar. Não é bonito de se ver, mas é o que eu vivi. E o que eu acho que me deixa um pouco indignada é que nessa altura do campeonato gente como eu, da minha idade, não tenha maturidade ou empatia suficientes pra encarar uma situação dessas e ajudar uma pessoa que está precisando.

6 comentários:

  1. Flor,

    Nunca "li" você na vida. Por acaso uma amiga falou que achou um blog que contava um pouco a situação que ela passou com o filhote. Entrei para ser solidária a ela. Acredite, eu não imagino o que nada disso, nunca fui mãe, mas sou a melhor amiga de uma pessoinha maravilhosa que viveu isso de maneira dolorosa. Hoje ela tá se recuperando e quase feliz de novo. Não sei nem o que falar, como vc bem disse, mas sei que na hora que tudo deu errado eu pude segurar a mão dela e não dizer nadinha. Valeu e muito para nós duas. Concordo muito com tudo que escreveu. Amigos que tomem "coragem em pó", daquelas que vende na farmácia mais próxima e vá ficar calado, mas vá ficar do lado. Ninguém sabe o que nos espera um dia. Espero que Deus lhe dê mais força, seu filhote vai ficar muito melhor e crescer feliz. Você é forte e tem muito amor em volta com certeza. Conte com minhas preces espíritas. Um cheiro bem nordestino. Alê

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  2. Sil, esse teu post foi um tapão na minha cara sabe. Eu ando covarde demais e não tenho conseguido ser o que me prôpus. Minha filha perdeu um coleguinha de escola num acidente de trânsito horrivel (ele estava sem cinto, atenção mamães), nós não éramos amigas, ela que dirigia e eu imaginei o quanto ela deveria estar sofrendo e eu fiquei lá por um tempo dando a mão, ligando e ela começou a tentar engravidar de novo, e eu dando força, perguntando. Isso vai fazer dois anos, e cinco inseminações depois e um aborto. Eu estou grávida e ela não. Sil eu simplesmente não tenho coragem de ligar, de exibir meu barrigão e minha felicidade. Me afastei mesmo pensando nela todos os dias, mesmo rezando por ela de longe, eu simplesmente sou covarde e não consigo estar tão perto como gostaria.

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  3. Sei extamente do que você esta falando....me senti sozinha e sem uma alma caridosa pra me dizer palavras de conforto, e isso em diversas situações, o meu Vitor é soro positivo, e quando eu o adotei achei que as pessoas iam achar o maximo, iam me ver de outro jeito, mas sofri na pele o preconceito....não tive amigas e nem os parentes mais proximos se chegaram...é dificil... tambem tomei uma resolução, sem amigas na tristeza tambem não as procurei na alegria...
    Depois desta situação ja passei por mais duas bem complicadas...minha filha aos 22 anos (em 2007), descobriu um cancer, linfoma de hodinks, e em março de 2008 a outra filha sofreu um grave acidente de moto e até hoje esta se recuperando.
    Tive que aprender a duras penas que não se pode pensar que temos alguem em quem esperar as palavras de apoio...eu mesmo me dizia no espelho que tudo ia passar...e esta passando.
    Por isso, eu as vezes nem me dou ao trabalho de dizer nada quando alguem proximo precisa, tudo passa, e o dela tambem vai passar, assim como o meu esta passando.
    Um grande abraço e muita força, quando se sentir sozinha, fale com o espelho, ele tem uma vantagem, não te diz nada que vc não queira ouvir....
    beijos

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  4. Na verdade, às vezes a gente se sente sozinha de algumas pessoas, sabe? Aquelas que vc acha que sempre vão estar lá e não estão.
    Mas, por outro lado, vc descobre tanta gente linda e disposta a te dar uma mão, um ombro e o que mais a gente precisar. É muito bom descobrir isso tb. Tem muita gente boa nesse mundo.
    Beijo. :)
    Erika

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  5. foi um dos posts mais sinceros e bonitos que li em tanto tempo de internet... não conheço vc, vi a fotinho do Mateus no início do Blog, lindo. Nào sei se falarei com vc de novo, meu sobrinho esteve internado na UTI uns dias e consigo avaliar o inferno pelo qual vc passou, minah irmã estva um caco. aquelas outras mães, pais e avós tb. eu tinah vontade de poder fazer algo mas nem sabia o quê. depois que o sobrinho já estava fora de perigo eu só desejava que aquelas pessoas tivessem a mesma sorte. ás vezes as pessoas somem mesmo, quando agente menos espero, quando menos devia acontecer. Sou assim, distante, medo de me ferir anda mais. mas levarei esta história no meu coração pra sempre, torcendo pra que o Mateus fique cada vez melhor e que vcs sejam felizes. bj

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